Injustiça Epistêmica (2021.1)

Injustiça epistêmica

Disciplina eletiva oferecida no Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD) em conjunto com o Prof. Fábio Shecaira, do Programa de Pós-Graduação em Filosofia (PPGF).

Títulos da disciplina: Formas de acesso à justiça (PPGD) ou Ética, Política e Direito (PPGF)

Códigos: IUS801 (PPGD) e FCF853 (PPGF)

Professores: Rachel Herdy (PPGD) e Fábio Perin Shecaira (PPGF)

Horário: 6ª, 14h-16h

Sala virtual: https://meet.google.com/nhi-vpew-uiu)

Ementa

Injustiça epistêmica é um conceito que se situa na interseção entre Epistemologia, Ética e Política. Este tipo particularmente epistêmico de injustiça foi identificado por Miranda Fricker no livro Epistemic Injustice: Power and the Ethics of Knowing (Oxford University Press, 2007). Desde então, tem influenciado muitos trabalhos sobre feminismo, estudos raciais e deficiências, entre outros estudos que envolvem práticas de discriminação. Neste livro, Fricker argumenta que existe uma forma distintamente epistêmica de injustiça, a qual consiste em causar um prejuízo ou dano a alguém especificamente “em sua capacidade como sujeito de conhecimento [knower]”. A injustiça epistêmica pode ser de dois tipos: testemunhal e hermenêutica. A injustiça testemunhal ocorre quando um falante tem sua credibilidade como testemunha reduzida por algum tipo de preconceito (da parte do ouvinte) baseado em fatores identitários (e.g., raciais e de gênero). A injustiça hermenêutica ocorre quando falta ao falante os conceitos e as categorias para comunicar ou dar sentido a uma experiência particular. Quando a autoridade policial deflaciona o depoimento ou o testemunho de alguém em razão da sua cor, gênero ou classe social, então temos um caso de injustiça testemunhal. Já em relação à injustiça hermenêutica, esta ocorria, por exemplo, quando as mulheres do passado sofriam assédio sexual e não possuíam tal categoria conceitual para que pudessem dar sentido a suas próprias experiências e comunicá-las a terceiros. Que outros tipos de injustiça testemunhal e hermenêutica podemos identificar em nossas práticas epistêmicas atuais? A proposta inicial de Fricker evoluiu nos últimos anos, sobretudo em resposta aos desenvolvimentos e desafios apresentados por outros pesquisadores do assunto. Discute-se, por exemplo, se a injustiça testemunhal não poderia ocorrer em razão de um excesso de credibilidade, como no caso de um morador de comunidade carente a quem se atribui um conhecimento a respeito do funcionamento do tráfico de drogas que ele não possui (Medina, 2011); ou se esta injustiça não poderia ocorrer também quando um ouvinte inflaciona o seu próprio juízo (Lackey, 2018), como no caso de um cientista que reputa saber mais do que uma mulher cientista integrante do seu grupo de pesquisa; ou, ainda, quais as implicações deste tipo de injustiça para as nossas instituições (Anderson, 2012). A publicação do The Routledge Handbook of Epistemic Injustice (2017) nos dá a dimensão da importância que este conceito ganhou nos estudos filosóficos contemporâneos e justifica esta proposta de curso.

Bibliografia do curso (a leitura de textos em inglês é fundamental para acompanhar o curso).

Leitura principal:

    • FRICKER, Miranda. Epistemic Injustice: Power and the Ethics of Knowing. Oxford: Oxford University Press, 2007.

Além do livro da Fricker, vamos ler os seguintes capítulos do The Routledge Handbook of Epistemic Injustice (2017):

    • Cap. 1, “Varieties of epistemic injustice”, por Gaile Pohlhaus. Jr.
    • Cap. 2, “Varieties of testimonial injustice”, por Jeremy Wanderer
    • Cap. 3, “Varieties of hermeneutical injustice”, por José Medina
    • Cap. 4, “Evolving concepts of epistemic injustice”, por Miranda Fricker
    • Cap. 5, “Epistemic injustice as distributive injustice”, por David Coady
    • Cap. 28, “Epistemic justice and the law”, por Michael Sullivan

Os seguintes capítulos de livro/artigos podem entrar na lista:

    • Beeby, Laura. A critique of hermeneutical injustice. Proceedings of the Aristotelian Society, vol. 111, 2011, pp. 479–486.
    • Anderson, Elizabeth. Epistemic Justice as a Virtue of Social Institutions. Social Epistemology, 26.2, 2012 pp. 163-173.
    • Lackey, Jennifer. Credibility and the Distribution of Epistemic Goods. In McCain, Kevin (ed.). Believing in Accordance with the Evidence. Springer, 2018.
Cronograma de leituras

07/05 – Apresentação do curso

14/05 – Fricker, intro + cap. 1

21/05 – Fricker, cap. 2

28/05 – Fricker, cap. 3

04/06 – Fricker, cap. 4

11/06 – Fricker, cap. 5

18/06 – Fricker, cap. 6

25/06 – Fricker, cap. 7

02/07 – Workshop EI (Chile)

09/07 – Workshop EI (Chile)

16/07 Handbook, cap. 1

23/07Handbook, cap. 2

30/07Handbook, cap. 3

06/08 Handbook, cap. 4

13/08 Handbook, cap. 5

20/08 Handbook, cap. 28

27/08

03/09

Avaliação

30% – Participação: espera-se que cada aluno apresente pelo menos um seminário, baseada na leitura de um capítulo ou texto previamente indicado. A nota de participação dependerá da qualidade da apresentação e da sua participação nos debates ao longo de todo o semestre.

20% – Proposta de trabalho final (máximo 2 páginas, Times New Roman 12, espaçamento 1,5) a ser entregue até 15/08/2021.

50% – Trabalho final (entre 10 e 15 páginas, Times New Roman 12, espaçamento 1,5) a ser entregue até 10/10/2021.

Bom semestre para todos!